As agenesias são classificadas como anomalias dentárias de número, com uma incidência relatada entre 2,7 a 12,2% na população. Frequentemente são associadas a outras anomalias como incisivos laterais conóides, transposições dentárias, impactações de dentes permanentes, erupções ectópicas e retenção prolongada de dentes decíduos, associada ou não à anquilose. Os dentes mais acometidos pelas agenesias são representados pelos últimos dentes de cada grupo, ou seja, terceiros molares, segundos pré-molares e incisivos laterais.
Especial atenção é dada à agenesia dos incisivos laterais superiores, principalmente pelas possibilidades reabilitadoras protéticas, exigindo mecânicas para a abertura de espaços, ou a possibilidade de reanatomização dos caninos e pré-molares, nos casos de fechamento de espaços. Defensores da abertura advogam a possibilidade de uma função oclusal mais adequada, com a desoclusão realizada na guia canino, uma saúde periodontal a longo prazo mais satisfatória e uma estética mais agradável por meio de próteses fixas, adesivas ou sobre implantes. Por outro lado, os defensores do fechamento do espaço acreditam que uma correta ameloplastia e torque nos caninos trazem um resultado mais natural, além de se evitar os desgastes e preparos de dentes adjacentes à agenesia ou problemas estéticos com os parafusos dos implantes ao longo do tempo.
Recente revisão sistemática sobre o assunto apontou que as condições periodontais nos casos de fechamento dos espaços e a reanatomização eram melhores quando comparadas ao tratamento protético nos quesitos sangramento, edemas, coloração, retenção de placa, profundidade de bolsas e estética de papilas gengivais. Quanto às funções oclusais, o fechamento dos espaços apresentou maior frequência de desoclusão em grupo, mas nenhuma diferença no que diz respeito à presença de dor ou desordens da ATM. Além disso, na avaliação por leigos, o fechamento do espaço apresentou melhores avaliações estéticas quando comparadas às reabilitações protéticas.
A decisão clínica entre se abrir ou fechar os espaços ainda representa um dilema para os ortodontistas e deve ser compartilhada com os pacientes ou seus responsáveis. Decisões compartilhadas sempre serão mais seguras para ambas as partes, pois expostos as vantagens, desvantagens, custos e benefícios a médio e longo prazos, a melhor opção será individualizada para cada paciente com seu total consentimento e entendimento. Na opção pelo fechamento dos espaços algumas particularidades no posicionamento do canino e pré-molar devem ser levadas em consideração para se obter os melhores resultados estéticos. Lembre-se que a estética do sorriso também é dependente da estética do nível gengival. A margem gengival do canino deve estar no mesmo nível da margem do incisivo central e o lateral deve apresentar um desnível de aproximadamente 2mm em comparação a esses dentes. Dessa forma, é fundamental:
- Extruir o canino que ocupará o lugar do incisivo lateral
- Realizar uma ameloplastia e reanatomização do canino
- Intruir o pré-molar que irá substituir o canino
- Reanatomizar o pré-molar
Referências:
- Mariam Al-Abdallah, Abeer AlHadidi, Mohammad Hammad, Hazem Al-Ahmad, and Raja’ Saleh. Prevalence and distribution of dental anomalies: A comparison between maxillary and mandibular tooth agenesis. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2015;148:793-8
- Giordani Santos Silveira, Natalia Valli de Almeida, Daniele Masterson Tavares Pereira, Claudia Trindade Mattos, Jose Nelson Mucha. Prosthetic replacement vs space closure for maxillary lateral incisor agenesis: A systematic review. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2016;150:228-37
- Marco Rosa, Patrizia Lucchi, Simona Ferrari, Bjørn U. Zachrisson, and Alberto Caprioglio. Congenitally missing maxillary lateral incisors: Long-term periodontal and functional evaluation after orthodontic space closure with first premolar intrusion and canine extrusion. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2016;149:339-48