A formação embriológica da face humana se inicia por volta da quarta semana de via intra-uterina, a partir da formação e diferenciação de estruturas dos primeiro e segundo arcos faringeos, considerados os precursores da face e do pescoço. Por volta da sétima semana de gestação já se observa a formação embriológica dos processos faciais, originados a partir do primeiro arco, e que participam diretamente do desenvolvimento dos osso da face e ouvidos. Várias anormalidades craniofaciais resultam do desenvolvimento anormal dessas estruturas.
Os eventos biológicos envolvidos na formação da face encontram-se sob um rígido controle, caracterizados por serem contínuos, sequenciais, sincronizados e cronometrados. Qualquer alteração genética, teratogênica ou ambiental capaz de influenciar no fino controle biológico da formação da face será responsável por más formações, principalmente as fissuras labiopalatinas.
A formação do lábio superior e do palato envolvem a fusão de vários processos faciais e, em razão disso, apresentam várias áreas susceptíveis ao aparecimento de fissuras. Embriologicamente, o lábio superior se forma pela fusão dos dois processos nasais mediais entre si, na porção média da face, e destes com os processos maxilares do lado esquerdo e direito. O palato se forma a partir da fusão dos processos nasais mediais entre si, na sua porção anterior, dando origem ao palato primário, e deste com a fusão dos processos palatinos (lâminas palatinas), originadas a partir de projeções dos processos maxilares do lado esquerdo e direito denominado de palato secundário.

Os diversos tipos de fissuras labiopalatinas representam a anormalidade craniofacial mais frequente na espécie humana, com uma média de incidência mundial de 1 caso a cada 1000 nascimentos. Além disso, se apresenta clinicamente de variadas formas e extensões, podendo acometer somente o lábio, somente o palato, o lábio e parte do palato anterior ou o lábio, o palato anterior e o posterior, concomitantemente. Devido às características embriológicas da formação da face, os lados esquerdo e direito se mostram completamente independentes, o que determina deformidades uni ou bilaterais, podendo, cada lado afetado, apresentar extensões também diferentes.
As fissuras labiopalatinas completas (FLPC) podem acometer um ou ambos os lados da face. Dentro das diversas classificações das fissuras, elas foram denominadas por Spina como fissuras transforames, uma vez que acometem o lábio, o palato anterior (primário) e o palato posterior (secundário), passando pela região do forame incisivo, que representa um marco embriológico importante na formação do palato. As FLPC, pela suas origens, são as mais extensas acarretando problemas estéticos, dentários, fonoaudiológicos, emocionais e, muitas vezes, sociais.



O tratamento envolve uma equipe interdisciplinar e pode se estender por até 20 anos. Idealmente os pacientes devem ser encaminhados aos centros especializados de tratamento, logo após o nascimento, para que todas as etapas de reabilitação sejam realizadas dentro de uma cronologia ideal.
Para ler mais:
Referências bibliográficas:
- Alphonse R. Burdi. Developmental Biology and Morphogenesis of the Face, Lip and Palate.
- Spina V.; Psilakis J.M.; Lapa F.S. Classificação das fissuras labio-palatinas: sugestão de modificação. Rev Hosp Clin Fac Med São Paulo, 1972, 27:5-6