A Ortodontia, como especialidade odontológica, possui uma história de desenvolvimento científico e tecnológico que se iniciou na década final dos anos 1800! Nesse longo período foram constantemente desenvolvidas e atualizadas as técnicas de diagnóstico, planejamento, as diversas mecânicas para se obter os movimentos dentários controlados, bem como de fabricação dos aparelhos ortodônticos fixos e seus acessórios. Esse longo período permitiu uma crescente curva de conhecimento dos fatores técnicos, biológicos e mecânicos primordiais para a resolução dos diversos casos de más oclusões. Todo esse conhecimento encontra-se registrado nas centenas de milhares de artigos científicos já produzidos e são fundamentais na formação e no protagonismo dos profissionais dedicados à especialidade.
Contudo, durante os últimos anos, os tratamentos ortodônticos, utilizando os alinhadores estéticos, tomaram conta do cotidiano dos ortodontistas, uma vez que grandes empresas, com alcance nacional e internacional, mantêm um constate bombardeio mercadológico nas mídias tradicionais e nas redes sociais, alterando drasticamente o comportamento de consumo dos pacientes que buscam atendimento. Além disso essas empresas oferecem, aos profissionais, equipes de técnicos para a elaboração dos planejamentos virtuais dos casos.
No afã de satisfazer os desejos dos pacientes, os profissionais passaram a utilizar os serviços de planejamento das empresas, muitas vezes sem entender o funcionamento adequado dos softwares e os movimentos sugeridos pelos seus algorítimos, aceitando prontamente as movimentações simuladas no ambiente computacional e sem avaliar os estadiamentos programados nos “clinchecks”. Os técnicos e o algorítimo assumiram o protagonismo nos planejamentos.
Diferente da mecânica ortodôntica tradicional, com aparelhos fixos, os alinhadores ainda carecem de um aprofundamento científico maior para o desenvolvimento mais acertivo da técnica, uma vez que toda essa tecnologia foi introduzida há, aproximadamente, 15 anos. Mas nesse curto espaço de tempo, alguns profissionais já perceberam que as simulações computacionais não correspondem aos resultados clínicos finais simulados, uma vez que vários desses movimentos dentários são difíceis de se obter, em boca, com o uso exclusivo dos alinhadores, tornando necessários vários scaneamentos, replanejamentos, instalação de miniparafusos, uso de elásticos e até mesmo a associação dos aparelhos fixos previamente aos alinhadores, determinando os tratamentos híbridos.
Associado à esses fatores, a introdução no mercado de softers abertos, com ferramentas que possibilitam ao ortodontista planejar os casos em um ambiente 3D, estabelecer o estadiamento dos movimentos, determinando a sequência que julga ideal para a movimentação dos dentes, visualizar antecipadamente as limitações do tratamento com os alinhadores e, principalmente, imprimir seus alinhadores no próprio consultório ou terceirizar essa fase final, trouxe a possibilidade do protagonismo dos tratamentos ortodônticos retornar para as mãos do ortodontista. Cabe a cada um assumir o seu papel.
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