Sou de um tempo em que as pesquisas em Ortodontia se faziam de forma experimental. As dissertações de mestrado e teses de doutorado obrigatoriamente apresentavam partes experimentais, fossem elas realizadas em laboratórios de materiais dentários, de patologia ou dentro da própria clínica, separando grupos testes e controles, verificando protocolos ou diversos resultados de tratamentos e aparelhos.
Vasta literatura pode ser pesquisada, sobre os diversos assuntos ortodônticos, nas dezenas de periódicos específicos da área. Os primeiros relatos considerados científicos datam dos idos anos 1850, publicados na Dental Cosmos. Obviamente muita coisa se alterou desde essa época, tecnologias novas foram sendo incorporadas o que provocou a repetição de trabalhos com novas metodologias, buscando novos paradigmas ou a confirmação de resultados antes alcançados e já estabelecidos na nossa clínica diária. Releituras de metodologias de trabalhos com novas tecnologias incorporadas podem contribuir com o avanço do conhecimento. É isso que um pesquisador almeja!
Recentemente tenho lido diversos trabalhos de revisão sistemática da literatura, com ou sem meta-análises. A explosão da ciência baseada em evidências tem modificado o perfil dos diversos periódicos da área da saúde. Isso não é fato exclusivo da Ortodontia, muito pelo contrário. Na medicina busca-se incessantemente a definição de protocolos clínicos seguros para o tratamento dos pacientes, nas diversas patologias e especialidades, por meio de evidências científicas coletadas e resumidas em um único trabalho. A ideia é trazer para o profissional clínico as informações das melhores práticas terapêuticas a serem aplicadas a seus pacientes, em um único paper, fazendo com que esse profissional, distante do meio acadêmico, tenha as melhores informações, dispendendo o mínimo de tempo nas leituras.
Contudo, a avalanche de revisões sistemáticas em Ortodontia trouxeram, na sua maioria, conclusões um tanto inesperadas! Várias delas avaliaram protocolos de tratamentos e aparelhos já consagrados na prática diária e pesquisados há décadas. A surpresa fica nos seus resultados, quando estabelecem a pouca evidência científica disponível para se afirmar a efetividade dessas diversas abordagens, sugerindo novos trabalhos futuros para se aumentar essa evidência. Nessa hora me pergunto se as centenas de trabalhos já realizados estavam realmente metodologicamente errados? Levaram a conclusões não muito realistas? O que se tinha como estabelecido cientificamente e utilizado clinicamente durante anos está errado e deve ser descartado?
A verdade é que diante desse fato só posso me questionar: Só sei que nada sei… ou somos todos empíricos?