Embora todos reconheçam que uma perfeita simetria entre os lados esquerdo e direito da face seja praticamente impossível de se encontrar, mesmo em pacientes considerados equilibrados, a harmonia facial encontra-se diretamente relacionada à essa pequena discrepância entre os lados da face, à coincidência das linhas médias dentárias entre si e entre a linha média facial e à uma altura do sorriso adequada. A inexistência de uma coincidência entre as linhas médias dentárias requer um correto diagnóstico e a determinação do seu fator etiológico. Diante de um caso clínico com essa discrepância, devemos nos perguntar:
- O que causou esse desvio?
- Como o desvio afeta a oclusão?
- É necessário tratar esse desvio?
Diversos fatores etiológicos podem levar às discrepâncias das linhas médias. Um dos principais fatores relaciona-se com os desvios laterais da mandíbula decorrente de interferências oclusais ou mordidas cruzadas posteriores. Além desse, inclinações inadequadas de dentes, movimentações dentárias para espaços desdentados, assimetrias esqueléticas, erupção ectópica de incisivos, mecânicas de retração inadequadas e discrepâncias dentárias podem resultar em diferentes graus de assimetria entre as linhas médias.
O quanto o desvio afeta a oclusão deve ser avaliado tanto no aspecto de curto quanto longo prazo. Os desvios resultantes do deslocamento funcional da mandíbula, decorrentes de toques prematuros ou mordidas cruzadas, devem ser interceptados o mais precocemente possível, evitando-se as assimetrias esqueléticas verdadeiras. Da mesma forma, aqueles originados a partir de erupção ectópica de incisivos ou esfoliação precoce dos caninos decíduos, durante o primeiro período transitório do desenvolvimento oclusal, merecem abordagens interceptoras, evitando-se o agravo do quadro clínico.
Numa abordagem corretiva, as subdivisões das Classes II e III determinarão padrões assimétricos de tratamento, seja por extrações ou movimentações diferenciais entre o lado esquerdo e direito dos arcos. Muito comum em pacientes adultos pré-protéticos, a movimentação espontânea e indesejada de dentes para áreas desdentadas podem determinar a necessidade de extrações no quadrante oposto ao desvio da linha média, equilibrando e harmonizando o sorriso. Já os desvios originados por assimetrias esqueléticas verdadeiras podem requerer tratamentos orto-cirúrgicos, dependendo do grau de assimetria. Nesses casos a avaliação correta do comprometimento esquelético e a disposição do paciente em se submeter à cirurgia ortognática determinarão os caminhos a serem seguidos. Algumas vezes, a correção ortodôntica do posicionamento dentário, associado a uma mentoplastia, pode minimizar e disfarçar assimetrias esqueléticas maiores, naqueles casos onde o paciente não aceita bem a possibilidade de uma cirurgia de grande porte.
De modo geral, as discrepâncias de linha média devem ser tratadas, pois muitas podem esconder problemas maiores nos desvios oclusais e esqueléticos. Somente pequena discrepância (0,5 a 1mm) de origem dentária e localizada no arco inferior pode ser desprezada, pois não afeta a harmonia facial. Idealmente, coordenar ortodonticamente as três linhas médias (facial, dentária superior e inferior) precocemente, mantendo-as alinhadas durante todo tratamento tornará a fase de finalização mais fácil, podendo eliminar o uso de elásticos intermaxilares ou outra mecânica para ajuste final da oclusão.
Para ler mais sobre o assunto:
https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/a-subdivisao-de-angle-o-que-ela-realmente-significa/
https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/mordida-cruzada-posterior-quando-tratar/
Referências:
- Laurance Jerrold; L. Jeffrey Lowenstein. The midline: Diagnosis and treatment. Am J Orthod Dentofa Orthop 1990;97:453-62.
- Anthony A. Gianelly; Irving A. Paul. A procedure for midline correction. Am J Orthod Dentofa Orthop 1970;58:264-67.