Os distúrbios do crescimento estatural não associados às síndromes incluem a deficiência do hormônio de crescimento (DHC) e a baixa estatura idiopática (BEI). Essa última é definida quando a estatura registrada na curva de crescimento se apresenta abaixo do normal, comparando-se o sexo e a idade, em dois desvios-padrão em relação à maioria da população. Além disso, não se observa nenhuma evidência de desnutrição, doenças sistêmicas crônicas, problemas endócrinos ou anormalidades cromossômicas. A BEI pode estar relacionada a uma mutação genética e sua prevalência gira em torno de 1 a 5% da população.
A terapia usualmente aceita, desde 1985, para o tratamento da BEI inclui a reposição hormonal com hormônio do crescimento recombinante (rGH). Embora os trabalhos mostrem resultados satisfatórios, a comunidade médica questiona sua efetividade e o compromisso ético com os pacientes, uma vez que os melhores resultados só são alcançados com o início da terapia em idades precoces, com dosagens diárias e ao longo de 6-7 anos de tratamento, o que denota altos custos financeiros para incrementos estaturais módicos, entre 3,5cm a, no máximo, 7cm em altura. Esses pacientes e seus pais devem entender que, mesmo com a terapia de rGH, a estatura final ainda será inferior à população geral, uma vez que o fenótipo de qualquer paciente pode ser alterado por fatores ambientais, mas o genótipo estabelece os seus limites.
Na face, os mecanismos reguladores do crescimento e do desenvolvimento craniofacial apresentam uma complexa interação entre genes, hormônios, nutrientes e fatores epigenéticos que conferem ao complexo craniofacial a sua morfologia. Qualquer distúrbio nesse mecanismo pode resultar em um desvio dos padrões de normalidade e alterações morfológicas em diferentes graus. Alguns trabalhos mostram as alterações sobre a mandíbula após a administração de rGH em pacientes com baixa estatura. Os resultados indicam uma tendência maior ao crescimento vertical e consequente aumento da AFAI em relação aos controles, durante a fase de reposição. Contudo a longo prazo, essa influência ainda é questionada.
Fazendo um paralelo entre às terapias ortopédicas funcionais dos maxilares (OFM) e o pouco crescimento estatural estimulado pelas reposições hormonais, devemos nos questionar se estamos sendo eficazes e eficientes nos nossos resultados de indução de crescimento com a utilização da OFM, se os longos tratamentos se justificam e, principalmente, quais os limites impostos às alterações do fenótipo facial decorrentes do seu genótipo. Além disso, cabe ressaltar que a face, em relação à proporção estatural, apresenta comportamento diferente durante o desenvolvimento do indivíduo. Enquanto a altura estatural aumenta, a proporção da face em relação ao desenvolvimento corpóreo total diminui, o que pode representar ganhos efetivos e proporcionais ainda inferiores àqueles alcançados com as terapias hormonais.
Bibliografia:
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