O prognatismo mandibular, quando avaliado no aspecto lateral da face, caracteriza-se clinicamente pelo posicionamento da mandíbula mais avançada em relação à maxila, determinando uma relação dentária de mordida cruzada anterior. Essa característica facial apresenta como fatores etiológicos aspectos ambientais e hereditários. As deficiências do tamanho anteroposterior da maxila, o excesso do crescimento mandibular ou a combinação desses dois fatores estão diretamente relacionados às heranças genéticas, normalmente são facilmente identificadas nos históricos familiares e são denominadas na literatura como uma Classe III verdadeira ou esquelética.
Contudo, a mandíbula pode se posicionar mais anteriorizada espacialmente em relação à maxila sem que exista uma discrepância real entre essa bases ósseas. Embora o aspecto clínico possa ser bastante parecido, a etiologia desses casos estão mais relacionadas aos fatores ambientais locais e sem um histórico familiar definido. Na literatura são classificadas como pseudo-Classe III ou falsa Classe III.
O importante agora é saber como diagnosticar corretamente situações clínicas bastante semelhantes, porém diferentes!
Um correto diagnóstico diferencial desses casos implica diretamente no plano de tratamento e no prognóstico a médio e longo prazos. Dessa forma, devemos tomar alguns cuidados desde o primeiro momento em que avaliamos o paciente. Uma anamnese inicial deve conter informações a respeito das características familiares e do grau de recorrência dessa má oclusão em parentes próximos. No aspecto facial, a presença ou não da deficiência da face média, denotando ausência das maçãs do rosto e determinando um perfil côncavo deve ser avaliado e, por fim, a manipulação da mandíbula em relação cêntrica identificando possíveis interferências dentárias responsáveis por uma alteração espacial da mandíbula, quando a desloca anteriormente, durante o seu caminho de fechamento. Posteriormente uma telerradiografia lateral da face possibilita a avaliação das inclinações dentárias superiores e inferiores, do comprimento efetivo de maxila e mandíbula e da relação espacial entre elas. Somente a partir dessa informações é que poderemos diagnosticar corretamente essa pseudo-classe III que apresenta como características:
- A maioria sem histórico familiar
- Maxila e mandíbula com tamanhos compatíveis
- Mandíbula deslocada espacialmente para frente
- Incisivos superiores retroinclinados
- Incisivos inferiores bem posicionados
- Diferença entre máxima intercuspidação habitual (MIH) e a relação cêntrica (RC), com deslocamento anterior da mandíbula
- Presença de um desvio funcional anterior da mandíbula devido a um toque prematuro (normalmente na região dos incisivos).
Após o correto diagnóstico, a terapia ortodôntica interceptora deverá ser instaurada o mais rápido possível, evitando-se a restrição do crescimento maxilar, o que transformaria uma mordida cruzada anterior de origem dentária e funcional em uma verdadeira Classe III.
Para ler mais sobre o assunto: https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/o-que-devemos-tratar-durante-a-fase-da-denticao-decidua/
Referencias:
- A.B.M. Rabie, Yan Gu. Diagnostic criteria for pseudo–Class III malocclusion. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2000;117:1-9