Embora os desvios do crescimento craniofacial e dentoalveolar decorrentes da respiração bucal já estejam bem descritos na literatura, algumas dúvidas ainda persistem quanto à efetividade pós-cirúrgica da remoção das amígdalas e adenóide, no restabelecimento espontâneo de um padrão normal de crescimento craniofacial, naqueles respiradores bucais com grande grau de obstrução das vias aéreas.
Relaciono aqui, dois trabalhos que avaliaram respiradores bucais operados e não operados e que mostraram alterações estatísticas significativas em direção a um crescimento mais próximo do normal nos grupos submetidos às cirurgias e avaliados um ano após essas intervenções, porém com pouco impacto clínico, uma vez que as pequenas alterações dimensionais milimétricas e angulares ocorridas nos arcos dentários e na maxila se mostraram imperceptíveis clinicamente, mesmo que esses pacientes apresentassem grande potencial de crescimento. O grupo não operado manteve a tendência de um crescimento facial mais desequilibrado, com um maior aprofundamento da altura do palato e arcos dentários mais estreitos quando comparado ao grupo operado, provavelmente pela continuidade da interferência de um desequilíbrio entre a musculatura interna e externa da boca e pela ausência do estímulo da matriz funcional no soalho das cavidades nasais.
Torna-se relevante destacar que as correções espontâneas dos arcos dentários ou da maxila não devem ser esperadas após as cirurgias, o que ressalta a necessidade de intervenções ortodônticas nos pacientes respiradores bucais que apresentem algum comprometimento dentoalveolar, mesmo nos casos em que as cirurgias tenham sido realizadas em idades precoces. O tratamento interdisciplinar, envolvendo médicos otorrinolaringologistas, ortodontistas e fonoaudiólogos deve sempre ser pensado.
Para ler mais:
https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/respiracao-bucal-quais-as-causas-e-consequencias/
Referências:
- Caixeta, A.C. et al. Dental arch dimensional changes after adenotonsillectomy in prepubertal children. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2014;145:461-8
- Brunelli. V. et al. Maxillary dentoskeletal changes 1-year after adenotonsillectomy. International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology 2016; 86:135–141