A possibilidade da reabsorção radicular dos incisivos laterais superiores representa um dos possíveis eventos adversos nos casos de caninos impactados ou deslocados palatinamente (PDC). Embora seja difícil de predizer a sua ocorrência, alguns parâmetros radiográficos de normalidade ou anormalidade podem ser tomados como referência nesse aspecto.
As radiografias panorâmicas são auxiliares de diagnóstico ortodôntico constantemente pedidas durante as fases de interceptação e prevenção de más oclusões. Saber avaliar o correto posicionamento dos caninos durante o seu processo de desenvolvimento dentário, bem como o seu movimento intraósseo em direção à cavidade bucal, torna-se fundamental para o diagnóstico precoce das alterações de desvios da guia natural da sua erupção.
Naturalmente os caninos utilizam as superfícies distais das raízes dos incisivos laterais como guia de erupção. Esse fato desencadeia eventos característicos de uma fase de transição dos dentes decíduos para os permanentes (fase do patinho feio). A pressão intraóssea dos caninos, sobre a superfície distal das raízes dos laterais provoca um deslocamento das raízes desses dentes em direção à linha média, convergindo-as e, consequentemente, divergindo as suas coroas. Nessa fase, os espaços entre as coroas e as inclinações dos incisivos superiores serão frequentes e esperados. Contudo, devemos ficar atentos aos movimentos dos caninos. A visualização, na radiografia panorâmica, de uma sobreposição da imagem da coroa do canino em relação à raiz do incisivo lateral e a angulação com que isso ocorre torna-se preocupante. Muitas vezes esses caninos deslocados terão de ser tracionados ortodonticamente para a sua posição no arco dentário.
Uma primeira avaliação deve ser realizada tomando-se como base a linha média e as paralelas a ela passando pelos pontos de contato entre os incisivos e o seus longos-eixos e estendendo-se até o canino decíduo. Essas paralelas determinam 5 setores. A visualização da ponta do canino entre os setores 1 a 3 indicam maior a possibilidade de reabsorção das raízes dos incisivos e a probabilidade aumenta quanto mais próximo do setor 1 estiver o canino.
A outra avaliação envolve o ângulo formado pela linha média e o longo-eixo do canino em erupção (α) e o ângulo formado entre os longos-eixos do canino e incisivo lateral (β). Valores superiores a 25o para o ângulo α e 28o para o β, aumentam a probabilidade de reabsorção do incisivo em 50%.
Diferente das reabsorções radiculares induzidas pelos movimentos ortodônticos, as causadas pelos posicionamentos inadequados dos caninos ocorrem, na maioria das vezes, nos terços médios das raízes e podem ser classificadas segundo a sua severidade em:
- Grau 1 – sem reabsorção, raiz intacta exceto pela perda superficial de cemento.
- Grau 2 – Reabsorção dentária leve, compreendendo menos que a metade da espessura da distância da dentina até a polpa.
- Grau 3 – Reabsorção dentária moderada, compreendendo mais que a metade da espessura da distância da dentina até a polpa, sem romper a lâmina da parede da cavidade pulpar.
- Grau 4 – Reabsorção severa, envolvendo a cavidade pulpar.
Para ler mais sobre o assunto: https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/caninos-impactados-doutor-vai-descer/
REFERÊNCIAS:
- Sune Ericson; Juri Kurol. Incisor Root Resorptions Due to Ectopic Maxillary Canines Imaged by Computerized Tomography: A Comparative Study in Extracted Teeth. Angle Orthod 2000; 70:276–283.
- Sune Ericson, Juri Kurol. Resorption of maxillary lateral incisors caused by ectopic eruption of the canines. A clinical and radiographic analysis of predisposing factors. Am J Orthod Dentofac Orthop. 1988:94:503-l 3