– Doutor, esse dente vai descer?
Quantas vezes temos que responder a essa pergunta? As impacções dos caninos superiores enquadram-se nos distúrbios do desenvolvimento dentário e são decorrentes da perda da sua guia de erupção. Alguns fatores etiológicos são citados como falta de espaço intraósseo, hipodontia e/ou agenesia do incisivo lateral. Casos como esses, frequentemente aparecem nos consultórios dos ortodontistas. Predizer a possibilidade do canino permanente irromper na cavidade bucal sem que seja necessário o seu tracionamento requer conhecimento, habilidade, atitude e, porque não, um pouco de sorte. Mas nem todos esses fatores associados podem garantir que o canino recupere sua trajetória normal e, nesses casos, a tração será inevitável!
1 – Conhecimento:
O Ortodontista deve conhecer profundamente sobre o desenvolvimento da oclusão, estágios de formação dentária de Nolla e os fundamentos dos procedimentos de extração seriada.
2 – Habilidade:
Ter habilidade para avaliar e interpretar corretamente o posicionamento dos caninos nas imagens das radiografias panorâmicas. Segundo J. Kurol, se a imagem radiográfica da coroa do canino estiver posicionada posteriormente a uma linha traçada sobre o longo-eixo do incisivo lateral superior, o dente apresentará 90% de chance de recuperar a sua trajetória de erupção se as atitudes corretas forem implementas. Quanto mais a imagem da ponta do canino ultrapassar essa linha, em direção anterior, menores serão as chances do canino irromper de forma espontânea. Outra referência importante é o ângulo formado entre os longos-eixos do canino e do incisivo lateral. Valores inferiores a 55 graus se mostram mais favoráveis à erupção espontânea.
3 – Atitude:
A partir da avaliação inicial, deve-se instituir os procedimentos interceptores. A expansão rápida da maxila, associada à extração do canino decíduo e, algumas vezes do primeiro molar decíduo, mostram resultados satisfatórios em aproximadamente 80% dos casos. A colocação de um aparelho extrabucal também pode ser necessário para aumentar o espaço intraósseo para os caninos permanentes.
4 – Sorte:
Depois de executar criteriosamente todas as etapas acima, só nos resta esperar! Normalmente os caninos impactados aparecem na cavidade bucal após 6 a 12 meses. Enquanto isso, controles radiográficos serão necessários para acompanhar a trajetória desse dentes em direção à cavidade bucal. Recomenda-se estar atento ao movimento desses dentes em direção aos incisivos laterais. Caso a trajetória seja de “colisão” com as raízes dos incisivos novas atitudes deverão ser implementadas, mas agora, no sentido de tracionar os caninos.
Para ler mais sobre o assunto: https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/caninos-impactados-tomografia-ou-raio-x-onde-esta-o-wally/
Referências:
- Julia Naoumova, Jüri Kurol and Heidrun Kjellberg. Extraction of the deciduous canine as an interceptive treatment in children with palataldisplaced canines—part I: shall we extract the deciduous canine or not? European Journal of Orthodontics, 2015, Vol. 37, No. 2, p.209–218
- Tiziano Baccetti, Lauren M. Sigler and James A. McNamara Jr. An RCT on treatment of palatally displaced canines with RME and/or a transpalatal arch. European Journal of Orthodontics , 2011, Vol.33, p.601–607