A diversidade de cursos de Ortodontia, com grades curriculares, intensidade de cargas horárias clínicas e duração diferente, nos leva a pensar na possibilidade de se criar uma base curricular mínima comum a todos os cursos, com cargas horárias semelhantes e ministrados em um período de tempo não inferior a 3 anos.
A padronização curricular evitaria a grande disparidade na formação dos ortodontistas, estabeleceria uma diretriz única, com objetivo de melhorar a qualidade dos cursos oferecidos e do cuidado com os pacientes. Estipuladas as disciplinas e os seus conteúdos, elas representariam 75% do currículo ofertado, ficando os restantes 25% para a inserção de disciplinas eletivas, o que permitiria uma diferenciação entre os cursos e um certo grau de liberdade para a coordenação adequar às suas necessidades.
Dessa forma, os futuros ortodontistas passariam a oferecer um serviço de alta qualidade para os tratamentos das más oclusões e deformidades faciais, baseados na premissa que o tratamento estaria sendo oferecido por um profissional especialista e com uma formação de excelência.
Gostou, mas achou utópico?
E se eu dissesse que esse projeto existe? Acreditaria?
Pois saiba que foi a partir dessas considerações e pela diversidade na formação dos ortodontistas da Comunidade Européia que se estabeleceu uma comissão formada por diversos professores, no intuito de se padronizar os currículos das diversas universidades dos países do bloco europeu. O projeto ERASMUS contou com a participação de 18 professores que discutiram, entre os anos de 1990 e 1991, a adequação e formulação da grade curricular mínima para os cursos de Ortodontia oferecidos nos diversos países da comunidade européia. Uma vez que os profissionais poderiam trabalhar em qualquer país do bloco, uma formação padronizada tornou-se necessária.
O relatório final desse trabalho foi publicado no American Journal of Orthodontics, em 1996 e estabeleceu os seguintes aspectos:
- Objetivos principais dos programas
- As condições gerais para o funcionamento
- As condições específicas para o ensino da Ortodontia
- As disciplinas obrigatórias
- A distribuição da carga horária
Estipulou-se a necessidade de uma carga horária anual mínima de 40 semanas, com uma dedicação de 40 horas semanais, durante 3 anos, totalizando 4800 horas-aula, com 2000 horas dedicadas à clínica e um número mínimo de 50 pacientes por aluno.
Somos um país continental, com diferenças entre os cursos ofertados nas diversas regiões do país. Uma situação bastante semelhante à enfrentada pela Comunidade Européia quando da sua fundação. Diante de uma disparidade tão evidente entre os cursos oferecidos pela Comunidade Européia e pelo Brasil, só nos resta perguntar onde está o erro? Continuamos remando contra a maré ou somos o suprassumo da sabedoria? Enquanto nos países europeus e nos EUA a busca pela qualidade na formação é requisito básico para o funcionamento dos cursos, por aqui, vamos dando nosso jeitinho, aplicando a “Lei de Gérson” e buscando formas mágicas para diminuir a carga horária e multiplicar a oferta de cursos. Nessa atitude não existe ganhador, pois o aluno não adquire o conhecimento que necessita, o paciente não tem a certeza se está recebendo o melhor tratamento possível e o diploma obtido com “grande” dedicação tem pouco valor!
Referência:
F. P. G. M. van der Linden. Three years Postgraduate Programme in Orthodontics: the Final Report of the
Erasmus Project. American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics 110(2):101-07, 1996