Recentemente estive fazendo uma peregrinação por algumas páginas e grupos do Facebook relacionadas à odontologia, não especificamente à Ortodontia. Dentre esses grupos, me deparei com um de compra e venda de artigos odontológicos. Inicialmente achei interessante a ideia, pois lá estavam sendo negociados equipamentos novos e usados, instrumentais clínicos, cirúrgicos, alicates, materiais de consumo e outros artefatos. Pensando como um gestor, isso faz muito sentido, pois instrumentais e equipamentos que não serão mais utilizados podem se transformar em uma fonte de receita extra para novos investimentos em benefício dos pacientes e do consultório.
Os negócios se realizam abertamente no grupo do Facebook, com propostas e contrapropostas feitas ora no chat, ora inbox. O fato é que, de certa forma, a razão da existência desse grupo funciona e se transformou em um balcão de ofertas.
Até esse ponto, tudo bem! Mas o que mais me chocou foi o fato da existência de diversos anúncios de venda de clínicas ou parte delas onde o anunciante faz questão de colocar como chamariz para a venda a quantidade de “pacientes ortodônticos ativos em tratamento”!
Não pude deixar de pensar: A Ortodontia virou uma commodity!
A palavra commodity é de origem inglesa e significa mercadoria cuja principal característica é possuir BAIXO VALOR AGREGADO. São considerados como commodities artigos de comércio pouco diferenciados como frutas, legumes, cereais, minérios, etc e que possuem seus preços estipulados pela bolsa de valores. No Brasil, o paciente ortodôntico virou uma commodity!
Olhando dessa forma, a desvalorização da Ortodontia começa pelas próprias mãos dos “ortodontistas” que colocam seus pacientes como mais uma mercadoria de baixo valor agregado e que podem ser vendidos a quem fizer a melhor oferta e, o pior, quando ele quiser!
Como encarar essa realidade? Não sei se estou ficando velho ou os princípios éticos pelos quais me formei e que forjaram minhas atitudes e compromissos profissionais já não existem mais! Até onde as responsabilidades profissionais assumidas com os pacientes, quando se inicia um tratamento, podem ser vendidas a um outro? A relação profissional/paciente se estabelece sobre um prisma de confiança e respeito mútuo, mas o “ortodontista” está sendo o principal responsável na quebra dessa relação.
Nada contra a venda de clínicas. O ideal, ao se vender uma clínica, é estabelecer um período de transição do seu comando, onde o novo e o antigo proprietário possam passar um tempo juntos para a familiarização dos casos e seus andamentos, para que os pacientes conheçam o novo profissional que estará responsável pelo seu tratamento e para que ele decida se continuará ou não naquele local. O paciente e seu interesse devem ser resguardados!
Infelizmente não é o que os anúncios feitos no Facebook transparecem. Neles a intensão clara é passar para frente um “negócio” e os pacientes são apenas uma commodity nesse processo!