A Gestão da Qualidade visa melhorar os atendimentos e a segurança dos pacientes, colocando-os como foco central nos cuidados e entendendo que cada um deve ser avaliado de acordo com seu perfil epidemiológico, sua enfermidade e suas co-morbidades. Isso significa posicionar o paciente segundo o sexo, idade, doença principal e as demais patologias inerentes à esse perfil e o seu histórico de saúde pré-existente, como por exemplo, diabetes, hipertensão, obesidade, câncer e qualquer outra doença crônica. Essa avaliação determina diferentes graus de sucesso esperado, uma vez que os resultados dos tratamentos podem apresentar diferenças significativas decorrentes das diversas associações clínicas. Esperar que todos os pacientes apresentem os mesmos desfechos para uma mesma patologia principal é negligenciar as variações individuais e criar frustrações profissionais desnecessárias. A gestão da qualidade na área de saúde possui conceitos e ferramentas já estabelecidos, mas não imutáveis, principalmente quando focamos na medicina.
Em odontologia pouco se fala sobre a Gestão da Qualidade. Particularmente na Ortodontia, por meio do Board Brasileiro (BBO), estabeleceu-se padrões de qualidade, baseados nos padrões americanos já utilizados há um bom tempo. Esses padrões determinam critérios de avaliações das finalizações dos tratamentos, estabelecendo scores, que ao final identificam a qualidade do resultado alcançado pelo ortodontista. Infelizmente, não se leva em consideração fatores externos ao diagnóstico das más oclusões que, muitas vezes, representam apenas uma avaliação estática e dentária da situação real do paciente. Fatores externos como idade, presença de doenças sistêmicas, quantidade e qualidade de osso, perdas dentárias pré-existentes, tratamentos prévios, presença de deformidades, histórico de doenças malignas, radioterapias, necessidade de multidisciplinaridade, cooperação, adesão ao tratamento e qualquer outro fator que possa caracterizar individualmente o paciente, estabelecendo critérios menos rígidos, porém adequados à sua situação individual são negligenciados. A verdade é que se estabeleceu um critério único de finalização a ser alcançado para todos os pacientes, baseado na má oclusão inicial, independente de suas características individuais.
Outra diferença marcante entre as avaliações de qualidade na medicina e na odontologia diz respeito à concessão da certificação. Enquanto na medicina o foco principal é aumentar o grau de segurança e qualidade das instituições que prestam serviços médicos, conferindo-as diferentes graus de certificação, na odontologia o foco é o profissional, isto é, certifica-se o ortodontista. Na minha opinião, essa visão é um pouco míope, pois imputa somente ao profissional a responsabilidade da qualidade, enquanto as instituições de ensino e os grandes prestadores do serviço (clínicas e franquias) ficam às margens das avaliações. Pensar em melhorar o foco dessa visão talvez traga resultados melhores para o paciente!
Para ler mais:
https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/perguntaram-qual-e-a-minha-opiniao-sobre-o-bbo/
Referência:
- Michael E. Porter; Elizabeth O. Teisberg. Repensando a Saúde. Estratégias para melhorar a qualidade e reduzir os custos. Bookman, Porto Alegre, 2007, 432p.