Recentemente estive presente em um simpósio sobre ética em Ortodontia, onde, por um período de 50 minutos, explanei sobre o mercado de trabalho e seus conflitos éticos. Como tema principal do simpósio, outros colegas apresentaram problemas bastante atuais como a ética no ensino e também na pesquisa. Após a abertura dos debates ao público presente, uma pergunta instigante me foi direcionada: Qual a minha opinião sobre o “Bord Brasileiro de Ortodontia”, o BBO?
De antemão esclareço que, independente de opiniões favoráveis ou contrárias, coloco aqui minha visão muito pessoal e atual sobre como encaro o tema e que pode se modificar com o tempo, caso eu sinta maior relevância nesse tipo de avaliação proposta.
Os processos de acreditação em saúde, sobretudo na medicina, tem o seu início por volta de 1910, nos Estados Unidos, onde progressivamente foram sendo criadas metodologias para a avaliação de instituições de saúde com o claro objetivo de aumentar a qualidade e a segurança dos serviços prestados aos pacientes. No ano de 1951, foi criada a Joint Commission on Hospital Accreditation (JCHA), que se tornou responsável pelas avaliações das instituições dos Estados Unidos e Canadá, até que, em 1958, o Canadá criou sua própria comissão, fundando a Canadian Council on Hospital Accreditation. Esse movimento se espalhou por diversas partes do mundo, chegando na América Latina por volta de 1990, por meio da Organização Pan-americana de Saúde.
No Brasil algumas iniciativas nesse aspecto podem ser observadas desde 1970, mas foi no ano de 1999 que se fundou a Organização Nacional de Acreditação (ONA), com a finalidade de coordenar os processos de avaliação das instituições brasileiras. Em 2001, a ONA foi reconhecida pelo Ministério da Saúde como instituição com capacidade de operacionalizar o desenvolvimento da acreditação no país. Como características desse processo, podemos citar:
- É um ato voluntário da instituição
- É um processo de avaliação externa
- Incentiva a busca de melhorias constantes
- Focada na segurança do atendimento ao paciente
- Não tem característica punitiva
- Não tem característica restritiva
- Não é indicativo de superioridade em relação a outras instituições não acreditadas
Uma comissão de avaliadores externos verifica os processos internos das instituições, apontando suas falhas e inconformidades com as regras previamente estabelecidas pelo Manual Brasileiro de Acreditação. Diante dessa avaliação, a instituição poderá receber um selo indicativo do seu nível de acreditação (1,2 ou 3) que são alcançados de forma progressiva e reavaliado a cada 2 ou 3 anos. Como vantagens podemos citar o estímulo às melhorias constantes nos processos de atendimento, gerenciamento e segurança no atendimento ao paciente. Além disso, a instituição busca se diferenciar em relação aos concorrentes, agregando mais valor à sua imagem. Desde 2012 os serviços odontológicos podem ser avaliados a partir de um manual da ONA, específico para a área.
Na verdade, o BBO apresenta as características de um processo de acreditação, mas de forma diferente, avalia os profissionais e não as instituições. Também é um ato voluntário, com reavaliações de 6 em 6 anos, sem características punitivas ou restritivas da atuação profissional. Ao final, se aprovado, o ortodontista recebe um selo que poderá ser utilizado como ferramenta de marketing e mais um diploma para pendurar na parede!
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Para ler mais:
Bibliografia:
- Rodrigues, M.V. et al. Qualidade e acreditação em saúde. Rio de Janeiro, Ed. FGV, 2011, 152p.
- https://www.ona.org.br
- http://www.bbo.org.br