Durante a história da Ortodontia, o processo de diagnóstico e planejamento ortodôntico evoluiu de acordo com as tecnologias que foram implantadas durante os anos. Inicialmente o diagnóstico se estabelecia apenas com observações clínicas e modelos de gesso. Somente a partir da descoberta dos Raios X (1895) e, posteriormente, com o desenvolvimento do cefalostasto (1931), novas perspectivas surgiram, com a associação de medidas craniométricas e antropométricas transcritas, agora, para um parâmetro cefalométrico.
As diversas análises cefalométricas vêm sendo utilizadas durante décadas. Todas se baseiam em valores padrões médios de pacientes considerados equilibrados nos seus aspectos dentários e esqueléticos. Todas possuem prós e contras, não podendo ser identificada nenhuma superioridade de uma análise em relação às outras. A escolha por uma análise cefalométrica se baseia na capacidade do profissional em interpretar seus dados e entender as suas limitações.
As principais limitações das cefalometrias relacionam-se com as avaliações de uma estrutura 3D do crânio em uma imagem 2D, o que gera uma perda da perspectiva real das estruturas, distorções, magnificações, além dos erros inerentes à técnica, como posicionamento inadequado da cabeça do paciente, determinação dos pontos, marcação das linhas e planos e, por fim, erros das medições. Na evolução da técnica, as análises computadorizadas, que sucederam as avaliações manuais, não se mostraram superiores aos traçados tradicionais, pois os mesmos problemas ainda persistiram.
A partir do desenvolvimento das tomografias computadorizadas (TC) e a sua introdução na odontologia, nos anos de 1998, vislumbrou-se a possibilidade de avaliar, tridimensionalmente, as estrutura craniofaciais, eliminando-se os erros já conhecidos das técnicas 2D. Basicamente, a TC permitiu a reconstrução tridimensional das estruturas a partir dos “cortes” sucessivos realizados nos planos axial, sagital e coronal. Rapidamente os estudos se direcionaram para a avaliação cefalométrica 3D, na busca de maior acertividade dos diagnósticos ortodônticos. Contudo, novos desafios surgiram, pois a marcações dos pontos agora devem ser a partir da definição de um sistema de coordenadas (x,y e z), aumentando a dificuldade de sua reprodutibilidade. Segundo Titiz e colaboradores, os principais problemas na determinação dos pontos são:
- Alguns pontos são facilmente marcados em 2 planos, mas de difícil visualização no 3º plano.
- A escolha do plano correto para a marcação do ponto requer tempo, experiência e cuidado na localização.
- Medidas lineares realizadas no eixo sagital (y) mostraram menores erros quando comparadas aquelas medidas nos eixos transversal (x) e vertical (z).
- A reprodutibilidade de alguns pontos diferem com os planos de orientações.
- A imprecisão das avaliações 3D estão associadas à complexidade da localização e marcação dos pontos de referência
Em uma revisão sistemática da literatura, Smektała e colaboradores concluíram, em 2014, que a cefalometria 3D ainda não poderia ser considerada uma técnica diagnóstica acurada e reproduzível, determinando que novos estudos com essa finalidade deveriam ainda ser realizados. As principais falhas apontadas pelos autores indicaram a necessidade de:
- Padronização do protocolo de exposição de radiação.
- Padronização do processamento de imagem.
- Determinação do método de seleção de pontos.
- Validação in vitro da acurácia e reprodutibilidade dos pontos.
- Validação in vivo da acurácia e reprodutibilidade dos pontos.
- Utilização de pontos validados para a obtenção das medidas.
- Validação in vitro das medições.
- Validação in vivo das medições.
- Revalidação independente multicentros.
- Criação de uma análise cefalométrica para utilização em diversas situações clínicas.
Bibliografia
- T. Smektała, M. Je˛drzejewski, J. Szyndel, K. Sporniak-Tutak, R. Olszewski. Experimental and clinical assessment of three-dimensional cephalometry: A systematic review. Journal of Cranio-Maxillo-Facial Surgery 42 (2014) 1795-1801
- Irem Titiz, Michala Laubinger, Thomas Keller, Klaus Hertrich, Ursula Hirschfelder. Repeatability and reproducibility of landmarks—a three-dimensional computed tomography study. European Journal of Orthodontics 34 (2012) 276–286
Para ler mais sobre o assunto: https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/caninos-impactados-tomografia-ou-raio-x-onde-esta-o-wally/