As mordidas cruzadas posteriores se caracterizam pelo relacionamento vestibulolingual inadequados dos dentes posteriores. Numa oclusão normal, as superfícies vestibulares dos dentes superiores se posicionam mais vestibularmente em relação aos inferiores, isso é, ficam mais próximos da bochecha em relação às dos dentes inferiores. Quando, por algum motivo, existe a inversão desse relacionamento, estamos diante de uma mordida cruzada que pode ser uni ou bilateral.

As mordidas cruzadas quando não tratadas precocemente podem evoluir para assimetrias faciais severas.
Os fatores etiológicos envolvidos nessa má oclusão podem incluir desde hábitos bucais de sucção não nutritiva, como chupar dedos ou chupeta, os desvios funcionais laterais da mandíbula durante o seu caminho de fechamento, bem como as discrepâncias transversais reais do crescimento maxilo-mandibular. Independente da sua etiologia, essa má oclusão deve ser tratada o mais precocemente possível. Postergar para o futuro pode provocar maiores comprometimentos esqueléticos ao paciente, gerando assimetrias de diferentes gravidades e que requerem tratamentos mais complexos. Dessa forma, quanto mais rápido for restabelecido o padrão de crescimento normal para a maxila, melhor será o prognóstico. Idealmente o tratamento deve ser instituído ainda na fase de dentadura decídua ou na dentadura mista precoce.
Existem diversos tipos de aparelhos que podem ser utilizados para descruzar a mordida, como as placas de Hawley com parafuso, quadriélices, e os disjuntores maxilares. A opção por qual deles utilizar baseia-se no diagnóstico diferencial da mordida cruzada e na habilidade do profissional no manuseio do aparelho. De uma forma geral, a opção pelos disjuntores é a mais frequente, pois além da correção das más posições dentárias, permite o aumento transversal da base óssea maxilar, reequilibrando o crescimento esquelético do paciente.

Disjuntor maxilar do tipo Hyrax
Esses disjuntores caracterizam-se por serem fixados aos dentes superiores posteriores, possuírem uma estrutura bastante rígida e um parafuso expansor posicionado transversalmente em relação ao palato. A ativação desse parafuso acontece diariamente, durante um período de 7 a 14 dias, sendo recomendado 1/4 ou 2/4 de volta no parafuso 2 vezes ao dia (outras metodologias de ativações podem ser recomendadas). Como resultado imediato, observamos a abertura de um espaço (diastema) entre os incisivos centrais superiores e uma inclinação dos dentes superiores posteriores de suporte do aparelho, descruzando a mordida.
Em relação à dor, durante as ativações do parafuso, uma leve pressão sobre os dentes de suporte pode ser sentida e algumas vezes associada a um formigamento na região da cavidade nasal. Essa dor ocorrerá enquanto a sutura palatina mediana não for rompida e, normalmente, não é necessário nenhuma medicação, pois essa sensação desaparece em poucos minutos após cada ativação. Caso ela seja mais intensa ou persistente é recomendável contactar o ortodontista.
Após o período ativo do aparelho (em média entre 7 a 14 dias) o disjuntor deve permanecer em posição por um período de 6 meses, durante o qual a sutura palatina mediana irá regenerar, novo osso irá se formar na região e os dentes irão se posicionar mais adequadamente.
Para ler mais sobre o assunto:
https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/indicacoes-para-a-expansao-rapida-da-maxila/
https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/o-que-devemos-tratar-durante-a-fase-da-denticao-decidua/
Referências:
- Ronald A.Bell, ThomasJ.Kiebach. Posterior crossbites in children: Developmental-based diagnosis and implications to normative growth patterns. Semin Orthod 2014; 20:77–113.
- Renée G. Geran, James A. McNamara, Jr, Tiziano Baccetti, Lorenzo Franchi, Lainie M. Shapiroe. A prospective long-term study on the effects of rapid maxillary expansion in the early mixed dentition. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2006; 129:631-40.